O PLANEJAMENTO NO XADREZ
"Um mau plano é melhor do que nenhum plano"
Frank Marshall
Antes de dedicar-se a qualquer atividade, quase todas as pessoas
contemplam as operações que terão de executar para atingir suas metas, e
tenta descobrir qual a melhor sequência para executá-las.
Eu acredito firmemente que o xadrez é, até uma certa extensão, o espelho
de vida e que, portanto, o planejamento é uma característica
fundamental deste jogo.
O que é o planejamento em uma partida de xadrez? É uma série de
operações em uma ordem bem calculada que visam a um objetivo concreto,
sendo que esta ordem é determinada pelas posições que se apresentem no
tabuleiro e é constantemente alterada pelas ações do adversário.
O plano não deve ser confundido com o objetivo do jogo. Algum amador
poderia pensar, "eu quero dar um xeque-mate, por isso eu vou jogar
visando um mate desde o inicio e por isso eu jogo de acordo com um
plano". Trata-se de uma abordagem redondamente equivocada; não existem
condições de se dar mate ao rei do adversário no início da partida. O
mate é o objetivo máximo do jogo e "jogar visando um mate desde o
início" é tão somente uma vontade de satisfazer este desejo.
Primeiro desenvolva as suas peças segundo um padrão, para estabelecer
uma supremacia em alguma parte do tabuleiro. Em seguida aumente a
pressão para conquistar vantagens posicionais concretas ou vantagens
materiais no meio-jogo.
Finalmente, explore as vantagens no final, através do estabelecimento de
uma vantagem material que torne qualquer resistência impraticável.
O lado que se defende também não deve jogar de qualquer maneira; deve
jogar segundo um plano, considerando todos os perigos, ameaças e
debilidades na sua posição e tentando - acima de tudo - livrar-se delas.
O plano é elaborado com base em uma avaliação concreta da posição e das
suas peculiaridades. Portanto, é importante ser capaz de analisar as
formações de combate de ambos os lados e compreender todas as sutilezas
desta posição. A capacidade de se elaborar um plano e executá-lo de modo
consistente no tabuleiro é um dos aspectos mais atraentes do xadrez; às
vezes, chega a ser mais gratificante que, digamos, lançar um Ataque
Direto ao Rei inimigo. E se você levar em conta que, frequentemente, os
jogadores disfarçam suas intenções, lançando mão de manobras que visam
distrair o adversário, você entenderá que jogar segundo um plano é uma
grande arte.
É claro que demora muito para que alguém aprenda a conduzir as suas
operações no tabuleiro de xadrez. Erros graves e erros menores irão
acontecer e estes são inevitáveis. Mas acredito que aprender com seus
erros é melhor do que jogar sem qualquer plano.
O Plano
Andersson,Ulf - Sokolov,Andrei [A30]
Bilbao Bilbao, 1987
[Pinto,C]
Bilbao Bilbao, 1987
[Pinto,C]
O xadrez não é um jogo de azar, onde as chances de ganhar ou perder não
dependem da habilidade do jogador. O xadrez é um jogo onde os planos
estratégicos e táticos devem estar presentes, senão estamos sucumbindo
imediatamente ou ficamos na pior posição e clara desvantagens.
Às vezes, durante um jogo, há vários planos, o plano é saber o que fazer
em cada situação ou posição.
O GM Ulf Andersson, mostra magistralmente neste exemplo sua vitória
através do desenvolvimento de um bom plano estratégico.
1.Cf3 Cf6 2.c4 b6 3.g3 c5 4.Ag2 Ab7 5.0-0 e6 6.Cc3 d6 7.b3 Cbd7
8.Ab2 Ae7 9.d4 cxd4 10.Cxd4 Axg2 11.Rxg2 Dc7 12.e3 a6 13.f4 0-0 14.Df3
Tac8 15.g4 Cc5 16.g5 Cfd7 17.Tad1 Tfe8 18.h4 Af8 19.Td2 Cb8 20.Tfd1 Cc6
21.Cxc6 Dxc6 22.Dxc6 Txc6 23.Aa3 Ae7 24.Axc5 bxc5
A IMPORTÂNCIA DO PLANO
St.Petersburgo, 1914
[Capablanca/Pinto,C]
"A estrutura de peões determina o plano" essa é a opinião de Emanuel Lasker. Para confirmar essa tese veremos uma de suas partidas. 1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Ab5 a6 4.Axc6 Esta jogada tem por objetivo chegar rapidamente ao meio jogo sem as damas e com a superioridade para as brancas de quatro peões contra três no flanco do rei ; entretanto a superioridade dos peões pretos no lado oposto encontra-se compensada , a certo ponto , porque um deles esta dobrado. Por outro lado , as pretas tem a vantagem do par de bispos , contra um só das brancas. 4...dxc6 Essa é a conhecida variante das trocas da Ruy Lopez. Que plano de ação para as brancas sugere a posição dos peões? As circunstância em que os peões pretos se encontram, dobrados na coluna "c", dão às brancas uma superioridade numérica de peões no centro e na ala do rei. Se por exemplo, tirarmos do tabuleiro todas as peças (exceto os Reis é claro), veremos que, no final, será mais fácil para as brancas criarem um peão passado, do que para as pretas. Desse modo, o final será favorável às brancas. Por isso, é racional que as brancas na posição do diagrama, optem por trocas, simplificando o jogo. É óbvio que as pretas devem agir contra a realização deste plano. Elas baseiam seu contrajogo num rápido desenvolvimento de peças, depositando esperanças no poder do par de bispos. 5.d4 exd4 6.Dxd4 Dxd4 7.Cxd4 Ad6 Para um jogo mais ativo seria melhor 7...Bd7 seguido de grande roque. As pretas se propõe a fazer o roque pelo lado do rei , pois calculam que o rei deve deve coloca-se no lado mais débil , para contrapor-se ao avanço dos peões.Na teoria , o raciocínio anterior nos perece perfeitamente lógico ; pois decidir se este plano seria o melhor , desde o ponto de vista prático , é difícil de provar. O leitor observará que se agora trocassem todas as peças , as brancas têm praticamente um peão a mais , portanto , um final de partida ganho. 8.Cc3 Ce7 Uma jogada de desenvolvimento perfeitamente calculada.Qualquer outra não permitiria desenvolver este cavalo tão rápido e tão bem. Nesta variante , a casa "e7" é a casa ideal para o cavalo preto , com o fim de não obstruir o avanço dos peões , e também , segundo as eventualidades que se apresentam , para saltar a casa "g6". Por último , teremos a possibilidade de ocupar a casa "d4" , via "Cc6" , depois de "c5". 9.0-0 0-0 10.f4 Quando se jogou a partida , este lance me pareceu débil , me segue parecendo todavia , porque deixa débil o peão "e4" , a menos de avança-lo a e5 , ademais , permite as pretas a cravada do cavalo , jogando Ac5. 10...Te8 O melhor , ameaçando Ac5 ; Ae3, Cd5. Ao mesmo tempo impede Ae3 , pela resposta Cd5 ou Cf5. 11.Cb3 f6 Preparando b6 , seguido de c5 e bispo b7 , em combinação com Cg6 que criaria grandes dificuldades as brancas para proteger seus dois peões centrais do ataque combinado das peças inimigas. 12.f513...Ab7? Jogada contra o meu melhor juízo da posição. O melhor sem dúvida era Axf4. o doutor Lasker há dado a variante seguinte : 13...Axf4 14.Txf4 Pc5 15.Td1 Ab7 16.Tf2 Tad8 17.Txd8 Txd8 18.Td2 Txd2 19.Cxd2 e segundo ele as brancas estão melhores. Pois como indicou Nimzowitsch imediatamente após a partida 16...Tad8 que dá Lasker em sua variante , não é o melhor . Se 16...Tac8! as brancas teriam grandes dificuldades para ganhar a partida , pois não se ver um bom plano para impedir as pretas Cc6 , seguido de Ce5 , ameaçando Cc4. Se as brancas tentarem opor-se a esta manobra retirando seu cavalo de "b3" , o cavalo preto iria então a casa "d4" , e o peão "e4"será o objetivo do ataque. Voltando a variante do doutor Lasker , sem dúvida qualquer que fosse a vantagem das brancas desapareceriam no instante da jogada das pretas 19...Cc6 , ameaçando Cb4 ou Ce5 , nenhuma das casas se pode evitar. Se as brancas contestam com 20.Cd5 Cd4 e as pretas dariam por empate pelo menos. Com efeito , depois de 19...Cc6 , são tão numerosas as ameaças das pretas que dificilmente meu adversário poderia impedir a perda de um ou mais peões. 14.Axd6 cxd6 As pretas livraram-se dos peões dobrados, mas as brancas têm um novo ponto de referência, o ponto fraco e6, para onde se dirige o cavalo b3. 15.Cd4 É uma coisa certa curiosa , pois certa , que quando eu joguei 13...Ab7 não vi esta jogada das brancas , pois então teria jogado 13...Axf4 , que é a precisa. 15...Tad8 Seria possível voltar com o bispo para c8, mas seria forte 16.Tad8 com pressão na coluna d. A partida estar muito longe todavia de se perder , pois contra a entrada do cavalo , as pretas podem jogar mais adiante c5 , seguido de d5. 16.Ce6 Td7 17.Tad1 Nesta posição estive a ponto de jogar c5 , seguido de d5 , que em minha opinião , me dava o empate ; pois subitamente me senti ambicioso e achei que poderia fazer a jogada do texto , 17....Cc8 , seguida depois do sacrifício da qualidade por o cavalo em "e6" , ganhando um peão na entrega e deixando o peão do rei mais débil todavia . Eu propunha levar adiante este plano antes ou depois de g5 , segundo as circunstâncias. Analisemos : 17....c5 se 18.Cd5 Axd5 19.ed5 b5 e uma análise cuidadosa demonstra que as pretas nada têm a temer . Neste caso meu plano se resumia em levar o cavalo a casa "e5" , via Cc8 , Cb6 e Cc4 ou Cd7. Novamente , 17....c5 18.Tf2 d5 19.exd5 Axd5 20.Cxd5 ( o melhor , pois se Tfd2 , Axe6 daria a vantagem as pretas ) Txd5 21.Txd5 Cxd5 e não há razão nenhuma para que percam as pretas. 17...Cc8 As pretas perdem tempo em vão, a posição de seus peões requer lances ativos na ala da dama. Seria bem mais forte 17...c5, com idéia de d6-d5, e pretas poderiam ativar o cavalo por e7, conduzindo-o pela rota c8-b6-c4-e5. A fraqueza do ponto e5 também é um importante ponto de referência para a avaliação da posição. 18.Tf2 b5 19.Tfd2 A vulnerabilidade do peão d6 tornou-se um fator importante que determina o plano das brancas. 19...Tde7 20.b4! Rf7 21.a3 Aa8 A passividade aqui é fatal. Haveria mais chance de defesa com o sacrifício de qualidade. Trocando meu plano uma vez mais , e agora sem nenhuma boa razão.se eu houvesse jogado aqui Te6 fe6+ , Te6 , como era a minha intenção quando joguei Cc8 , duvido muito que as brancas conseguisse ganhar a partida . Ao menos seria extraordinariamente difícil. 22.Rf2 Ta7 23.g4 h6 24.Td3 a5 25.h4 axb4 26.axb4 Tae7 As pretas têm poucas perspectivas na coluna a, e que logo será ocupada pelas brancas. Esta jogada já não tem objetivo. As pretas , com uma mal partida se permitem esta pequena divagação. Melhor seria Ta3 , para guardar a coluna aberta , e , ao mesmo tempo , ameaçar o cavalo em "c3"e c5 levando esta peça em jogo. 27.Rf3 Tg8 28.Rf4 g6 Outra mal jogada. Os dois últimos movimentos das brancas são fracos , pois seu rei nada faz aqui. Deveria ter jogado sua torre em na casa "b7" , na jogada 27. As pretas deveria mover agora g5+. Uma fez desperdiçada esta ocasião , As brancas tem o campo livre para realizar seu plano e terminam a partida com grande correção , pois a posição das pretas é cada vez mais desesperada. Não são mais necessários comentários , pois devo dizer que meu jogo apresentou um caracter Irresoluto ao longo da partida . Quando se tem um plano deve leva-lo adiante , sempre que seja possível . Tocante ao jogo das brancas seus movimentos 10. e 12 me parecem muito fracos , depois jogou bem até a 27. que é mal , o mesmo com a 28. O resto da partida é bom , provavelmente perfeito. 29.Tg3 g5+ 30.Rf3 [30.hxg5 hxg5+ 31.Rf3 Th8 as brancas dificilmente penetrariam na posição adversária.] 30...Cb6 31.hxg5 hxg5 32.Th3! Por que as brancas recusaram a captura do peão d6? 32...Td7 33.Rg3 Re8 34.Tdh1 Ab7 35.e5! Esta é uma manobra típica. Ao sacrificar um peão, as brancas tornam possível a penetração do cavalo c3 nos pontos fracos do campo inimigo. 35...dxe5 36.Ce4 Cd5 37.C6c5 Ac8 no caso de retirada da torre decidiria 38.Cd6+ 38.Cxd7 Axd7 39.Th7 Tf8 40.Ta1 Rd8 41.Ta8+ Ac8 42.Cc5 as pretas abandonaram. 1-0
Moscou, 1963
[Kasparov]
1.e4 e5 2.Cf3 Cc6 3.Ab5 a6 4.Aa4 d6 5.0-0
Esta é uma das linhas mais antigas da abertura Ruy Lopez. Após cumprirem a primeira metade do plano na abertura (tirar o Rei do centro), as brancas planejam a criação de um centro de peões através dos lances c3 e d4, que também pressionam o peão preto na casa e5. As pretas normalmente tentam sustentar seu peão na casa e5 jogando Cg8-e7-g6, seguidos de Be7. Também é possível montar uma outra formação defensiva: ...Cg8-e7, ...g6, ...Bg7. Ambos os lados parecem estar dispostos a engajarem-se em lentas manobras posicionais. De repente as pretas jogam um lance impulsivo e anti posicional. 5...g5?! 6.d4! As ações enérgicas no centro devem ser consideradas como a melhor resposta para o avanço prematuro dos peões da ala do rei das pretas. A melhor maneira de se explorar o desenvolvimento lento das pretas é abrindo o centro. O sexto lance das brancas é um bom exemplo de uma correção de um plano anterior no momento adequado, de modo a explorar as ações do adversário. 6...g4 7.Axc6+ bxc6 8.Ce1 exd4? Outra concessão posicional. Iludido por achar que sua vantagem em conservar o par de bispos lhes permitirá abrir o centro, as pretas ainda pouco desenvolvidas fazem concessões importantes no centro. 9.Dxd4 Df6 10.Da4 Ce7 11.Cc3 Mais uma correção efetuada no plano para a abertura. Esta posição não mais requer o avanço do peão à casa c3, por isto esta casa é agora ocupada pelo cavalo, que tomará parte no combate pelo centro - o setor decisivo. 11...Ad7 12.Da5! As brancas alteram o seu plano e se valem da debilidade do peão na casa c7 para impedir que as pretas façam o roque, frustrando a intenção do adversário de mobilizar suas peças. A perda de tempo é mais do que compensada pela desarmonia das peças pretas. 12...Rd8 13.Cd3 Ag7 14.e5!
Esta é uma das linhas mais antigas da abertura Ruy Lopez. Após cumprirem a primeira metade do plano na abertura (tirar o Rei do centro), as brancas planejam a criação de um centro de peões através dos lances c3 e d4, que também pressionam o peão preto na casa e5. As pretas normalmente tentam sustentar seu peão na casa e5 jogando Cg8-e7-g6, seguidos de Be7. Também é possível montar uma outra formação defensiva: ...Cg8-e7, ...g6, ...Bg7. Ambos os lados parecem estar dispostos a engajarem-se em lentas manobras posicionais. De repente as pretas jogam um lance impulsivo e anti posicional. 5...g5?! 6.d4! As ações enérgicas no centro devem ser consideradas como a melhor resposta para o avanço prematuro dos peões da ala do rei das pretas. A melhor maneira de se explorar o desenvolvimento lento das pretas é abrindo o centro. O sexto lance das brancas é um bom exemplo de uma correção de um plano anterior no momento adequado, de modo a explorar as ações do adversário. 6...g4 7.Axc6+ bxc6 8.Ce1 exd4? Outra concessão posicional. Iludido por achar que sua vantagem em conservar o par de bispos lhes permitirá abrir o centro, as pretas ainda pouco desenvolvidas fazem concessões importantes no centro. 9.Dxd4 Df6 10.Da4 Ce7 11.Cc3 Mais uma correção efetuada no plano para a abertura. Esta posição não mais requer o avanço do peão à casa c3, por isto esta casa é agora ocupada pelo cavalo, que tomará parte no combate pelo centro - o setor decisivo. 11...Ad7 12.Da5! As brancas alteram o seu plano e se valem da debilidade do peão na casa c7 para impedir que as pretas façam o roque, frustrando a intenção do adversário de mobilizar suas peças. A perda de tempo é mais do que compensada pela desarmonia das peças pretas. 12...Rd8 13.Cd3 Ag7 14.e5!
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